[Closed] Filme Revolucionário Africano: Arquivos em Construção

Traduit de :
[Closed] African Revolutionary Film: Archives in the Making
Autre(s) traduction(s) de cet article :
[Fermé] Le film révolutionnaire africain : des archives en devenir

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Informação geral

Editores

Anita Afonu (Roaming Akuba Films), Jennifer Blaylock (Oberlin College), e Dan Hodgkinson (University of Oxford).

Calendário para @s autores:

  • 20 de Fevereiro de 2023: Submissão dos resumos.
  • 6 de Março de 2023: Anúncio aos autores dos resumos selecionados.
  • 1 de Junho de 2023: Submissão dos artigos para revisão.
  • 1 de Outubro de 2023: Revisão dos artigos.
  • 1 de Dezembro de 2023: Documentos finais para a produção e preparação dos materiais a serem depositados em acesso aberto.
  • 2024: Publicação da edição especial

Submissão de propostas

Apresentação

A Glossary of Words My Mother Never Taught Me [Um glossário de palavras que a minha mãe nunca me ensinou] (Renée Akiteleek Mboya, 2021)

A Glossary of Words My Mother Never Taught Me [Um glossário de palavras que a minha mãe nunca me ensinou] (Renée Akiteleek Mboya, 2021)

Temos o prazer de anunciar esta chamada de artigos em colaboração com Sources para uma edição especial sobre filmes africanos revolucionários realizados durante o processo de descolonização, sobre o seu papel na formação da vida social d@s espectadores african@s, tanto nessa época como actualmente, assim como sobre a sua complexa e perigosa posição enquanto fonte arquivística. Ao longo do último século, em todo o mundo a política sofreu uma reconfiguração através da tecnologia visual do cinema. Desde os primórdios do cinema soviético com os agit-comboios e agit-barcos até o YouTube e outros ‘streamers’ actuais, os revolucionários têm acreditado que a imagem em movimento, como meio de fácil reprodução de narrativas dramáticas, constitui uma forma poderosa de unir grupos diversos de pessoas, sob novas visões políticas. Os projectos emancipatórios de descolonização nos anos 1950s, 1960s e 1970s, ainda que eclipsados dos estudos sobre cinema e história do cinema, tiveram um lugar chave no desenvolvimento das culturas cinematográficas revolucionárias. As heranças complexas e contestadas desta era de realização de cinema quase desapareceram da projecção pública, como consequência do abandono desses projectos políticos, da ascensão do neocolonialismo e da negligência institucional das indústrias africanas de cinema e dos seus arquivos, durante os ajustamentos estruturais. Os espectros e memórias desse passado tornam-se cada vez mais importantes hoje, particularmente para a nova geração de artistas africanos, realizadores e arquivistas, num acerto de contas com a história, através dos seus próprios projectos emancipatórios e, ao fazê-lo, imaginando de forma criativa o que é e deverá ser o arquivo cinematográfico .

Este número especial pretende reunir contribuições científicas sobre realização cinematográfica revolucionária africana, assim como sobre arquivos de media e de cinema, vendo de várias perspetivas disciplinares e intelectuais. Utilizamos aqui o termo ‘revolucionário’ de forma abrangente a fim de denotar os projectos radicais multifacetados de transformação da sociedade, culturas e discursos, relativamente ao poder colonial, no sentido em que procuram a emancipação através da ‘disrupção de categorias existentes’ assim como aqueles projectos que incorporaram políticas autoritárias sob o signo da revolução. (Zeleke & Davari 2022). São bem-vindas contribuições de antropólog@s, arquivistas, académic@s, realizadores e historiadores (entre outr@s) que explorem questões intelectuais, políticas e metodológicas nos filmes revolucionários africanos do passado e do presente. Esta troca interdisciplinar é, como Roland Barthes defendeu em 1968, ‘não uma questão de fazer as disciplinas comunicar, mas uma questão de as transformar’ (2002 [1968], 58). As such, contributors are strongly encouraged to step back and take an innovative, self-critical, and perhaps experimental approach to academic publication, which involves addressing the politics surrounding the archival sources that they use and, where appropriate, to make available those sources alongside their articles. Assim sendo, encorajamos abordagens inovadoras, autocríticas e mesmo experimentais, o que inclui refletir sobre a dimensão política das fontes de arquivo usadas e, quando apropriado, a partilha destas fontes dentro do artigo. Quando não houver problemas de direitos, a incorporação e filmes ou de filmagens no texto não só é possível como encorajada. Outras fontes que podem ser incluídas para publicação e análise, são danificações (riscos) específicas na superfície de um filme, ou a revisão de outtakes, para um relatório de censura do Estado. No centro desta chamada de trabalhos está a interrogação sobre onde e como o conhecimento é produzido. Que materiais contam como fontes para a compreensão das histórias africanas? E como a preservação (ou negligência) dos arquivos de filmes africanos molda as narrativas políticas contemporâneas? Em linha com a missão da Sources de fornecer uma plataforma para compartilhar fontes e materiais de pesquisa, também vemos esta edição especial como um exercício experimental de criação de arquivo.

Além da concentração das fontes nesta edição especial, encorajamos especificamente contribuições sobre três temas inter-relacionados:

O significado do cinema dos anos 50 aos anos 70

Esta edição especial explora uma série de estudos de caso do continente africano, onde novas culturas de ecrã e visões políticas emancipatórias se co-produziram e inspiraram mutuamente contra a ordem colonial e formas degradantes de identidade individual (Diawara 1992; Gray 2020; Gordon 2002). Em 1964, o regime de Gamal Abdel Nasser construía um cinema por semana no Egipto. No Gana, após a independência, Kwame Nkrumah começou a construir as instalações de produção cinematográfica mais extensas da África anglófona e, em 1965, fundou a primeira estação de TV do país (doze anos antes de a TV ser criada na África do Sul). O nosso objectivo é explorar a co-constituição de visões políticas da independência e práticas cinematográficas africanas que possam ir além de discussões redutoras de 'propaganda' e levem a sério as agendas revolucionárias de cineastas e Estados africanos pós-independência.

Mais especificamente procuramos artigos que abordem os objectivos, técnicas e estéticas, redes transnacionais e internacionais e os efeitos directos desta era do cinema, que parecia estar subjacente à crença de que o ecrã e as suas representações de visões dramáticas da vida, — quer em documentários noticiosos, quer em longas-metragens, — poderia despertar a imaginação do público, sobre aquilo a que deveriam assemelhar-se as mudança políticas e o comportamento moral, e recalibrar os índices emocionais dos respectivos auditórios, em resposta a essas visões emancipatórias. Assim, interessam-nos as seguintes questões: quais foram os papéis sociais e políticos particulares que políticos, organizações populares, cineastas e profissionais da indústria imaginaram que os media teriam em projectos de descolonização e independência nacional? Como e porquê os cineastas reuniram ideias e práticas locais e transnacionais ao realizarem produtos de media e composição cinematográfica? Como é que os seus filmes e eles próprios se localizaram dentro de cartografias mais amplas de lutas e solidariedades, incluindo as dinâmicas da Guerra Fria e o internacionalismo revolucionário? Quais foram os efeitos sociais e políticos desses filmes sobre audiências, imaginações políticas e géneros cinematográficos? De que forma circularam: críticas escritas, assistência, debates ou censura? Como foram enquadrados e inseridos dentro dos vários aparelhos, políticos, intelectuais, artísticos, moldando com isso a sua recepção entre audiências locais e estrangeiras?

O legado desta era de cinema

Como nos lembra Aboubakar Sanogo (2015, 116), o cinema pós-independência e os projectos de transformação social lançam 'sombras persistentes' sobre os discursos do cinema africano bem como sobre contornos mais amplos em que a vida política pós-colonial foi imaginada, debatida e contestada pelas gerações subsequentes. Sara Salem (2020, 257) argumenta que, no Egipto, o projeto político da era da independência, de Nasser, 'estabeleceu o padrão do que um projeto hegemónico bem-sucedido parecia ser, [e] assim, explícita e implicitamente estabeleceu expectativas em torno daquilo que outros projectos deviam dizer, fazer ou ser.’ Este número especial está interessado em traçar essas histórias, desmontando o efeito desses projectos sobre a vida das pessoas que os produziram e sobre o público que os viu, assim como as próprias vidas desses filmes - onde circularam, como foram vistos e os efeitos que tiveram, inclusive na mobilização política e social. Também estamos interessados nas seguintes questões: De que forma esta era do cinema exerce um poder sobre as imaginações políticas actuais, os géneros cinematográficos e a vida social actual? Como podemos e devemos estudar os significados actuais desta era passada, e de que tipo de fontes precisamos para essas investigações? Que papel pode o cinema desempenhar, como prática histórica, nesta pesquisa? Que efeitos epistemológicos podem ter essas preocupações metodológicas?

A re(criação) dos arquivos cinematográficos africanos

Indiscutivelmente, a história pública mais profunda sobre esta época hoje está sendo produzida por artistas e cineastas africanas1. O filme de ensaio de Renée Akiteleek Mboya, Um Glossário de Palavras que Minha Mãe Nunca Me Ensinou (2021), é uma investigação inquietante sobre seu passado como queniana, reformulando criticamente as narrativas oficiais da independência e o gratuito, neo-colonial ‘shockumentário’ Africa Addio (Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi, 1966). O uso crítico do filme por Mboya como 'um processo de criação de arquivos', para ajustar contas com o passado, também revela uma verdade difícil : a relativa falta de fontes e o acesso limitado aos filmes, , para investigar momentos fundamentais do passado do continente (Fouéré 2016, 84). A combinação de uma indústria cinematográfica global centrada no Norte Global e de arquivos institucionais de cinema africanos que, frequentemente, sofreram negligência significativa, fizeram que estudiosos como Sanongo sugerissem que ' a nossa história do cinema é uma diáspora' (Cosgrove 2019). Perante isto, vários arquivistas, estudiosos de cinema e historiadores estão envolvidos em projectos caros e complexos para restaurar, digitalizar e recuperar as bobines de filmes desta época. Outras iniciativas, como o projeto 'Reframing África' liderado por Cynthia Kros, Pervaiz Khan, Aboubakar Sanogo e Reece Auguiste na Universidade de Witswatersrand, garantem a circulação contínua dos filmes e o apoio a cineastas africanos (ver Kros, Auguiste & Khan 2022). Estas circunstâncias colocam um conjunto de questões importantes e oportunas, tais como: O que é ou pode ser o arquivo de cinema africano? Quais são os desafios que os arquivos institucionais africanos de cinema enfrentam hoje? De que forma o aumento do acesso ao filme revolucionário africano pode moldar as percepções públicas da descolonização africana no continente e no exterior? Como é que os estudiosos podem e devem pesquisar arquivos de filmes perdidos ou negligenciados? Quais são as obrigações éticas dos académicos para com as instituições de arquivo e os novos processos existentes de restauro e digitalização?

Bibliografia

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1 Alguns exemplos incluem Ibrahim Mahama, Tuli Mekondjo and Ali Essafi.

1 Alguns exemplos incluem Ibrahim Mahama, Tuli Mekondjo and Ali Essafi.

A Glossary of Words My Mother Never Taught Me [Um glossário de palavras que a minha mãe nunca me ensinou] (Renée Akiteleek Mboya, 2021)

A Glossary of Words My Mother Never Taught Me [Um glossário de palavras que a minha mãe nunca me ensinou] (Renée Akiteleek Mboya, 2021)